José Ramón Vizcaíno
Médico do Serviço de Anatomia Patológica
José Ramón Vizcaíno é assistente hospitalar graduado de Anatomia Patológica na ULSSA.
Doutorou-se em Ciências da Saúde na Universidad de Múrcia em Espanha em dezembro de 2022 sob a orientação do Professor Doutor José Antonio Pons Miñano.
Qual a motivação que o levou a encetar por este objeto de estudo?
O diagnóstico histopatológico da hepatite C (VHC) e das hepatopatias autoimunes, como a colangite biliar primária (CBP) e a hepatite autoimune (HAI), requer a integração dos dados bioquímicos, serológicos, imunológicos e moleculares. Isto é assim porque não há aspetos morfológicos patognomónicos no estudo histológico da biopsia que permitam um diagnóstico definitivo. Perante a ausência de dados que favoreçam uma entidade, a biopsia é um elemento essencial para auxiliar no diagnóstico, sendo que será sempre um diagnóstico de presunção.
Quais os principais resultados do estudo?
Para o nosso estudo foram selecionados 62 pacientes distribuídos em quatro grupos: controlo (n=13); CBP (n=11); VHC (n=21); HAI (n=17). O produto de extração dos metabolitos a partir do tecido da biopsia hepática parafinada, analisado em HPLC-MS/MS, revelou 95 metabolitos dos quais 53 cumpriram o critério de precisão imposto (35%). Os modelos preditivos gerados, com estes 53 metabolitos para os diferentes grupos diagnósticos, mostraram uma capacidade de discriminação boa para Controlo vs VHC (AUC= 0.88), Controlo vs HAI (AUC=0.81), VHC vs CBP (0.88) e excelente para Controlo vs HAI (AUC= 0.96), VHC vs CBP (AUC=0.97), HAI vs CBP (AUC=0.92). Os estudos das vias metabólicas, a partir dos módulos gerados na rede de correlações perturbadas dos diferentes grupos diagnósticos, sugerem uma perturbação no metabolismo dos carbohidratos nos grupos Controlo vs VHC e VHC vs CBP, do metabolismo dos aminoácidos nos grupos VHC vs HAI e HAI vs CBP, do metabolismo dos nucleótidos nos grupos VHC vs HAI, HAI vs CBP e Controlo vs CBP, do metabolismo energético no grupo Controlo vs CBP. A baixa capacidade discriminativa das variáveis morfológicas não contribui para melhorar o poder discriminativo dos modelos gerados com os metabolitos. Não identificamos um conjunto de metabolitos suficientemente discriminativo para construir um modelo de predição do grau de fibrose e da atividade necroinflamatória.
Qual a principal conclusão do estudo?
Resumindo, a partir da metabolómica é possível construir a base de uma técnica complementar extremamente relevante para o diagnóstico histopatológico da hepatite C e das hepatopatias autoimunes. O estudo histológico da biopsia continuaria sendo indispensável para avaliar a fibrose e a atividade necroinflamatória.