O papel do vítreo e da interface vítreo-retiniana na abordagem do edema macular diabético


Bernardete Pessoa
Oftalmologista

Bernardete Pessoa, especialista em Oftalmologia, integra a secção de Retina Cirúrgica e Traumatologia Ocular do Serviço de Oftalmologia do CHUPorto.
Doutorou-se em Ciências Médicas no ICBAS-UP em janeiro de 2022, sob a orientação do Professor Doutor João Nuno Melo Beirão.



Qual foi o principal objetivo deste estudo? 

Este estudo pretendeu investigar o papel do vítreo no edema macular diabético (EMD), doença multifatorial e principal causa de perda de visão por retinopatia diabética (RD) em adultos em idade ativa em países desenvolvidos. O vítreo é um depósito não balanceado de moléculas inflamatórias/patogénicas e neuroprotetoras/anti-inflamatórias produzidas pela retina, onde esta se encontra embebida.

Quais as principais variáveis em estudo?

Biomarcadores vítreos humorais, interface vitreomacular (VMI), biomarcadores imagiológicos retinianos e coroideus de resposta ao tratamento do EMD em olhos vitrectomizados (VIT) e não-VIT constituíram as principais vias de investigação.

Quais os principais resultados do estudo?

O estudo demonstrou que níveis intravítreos (IV) aumentados de IL-6, IL-8, MIG (CXCL9) e IP-10 (CXCL10) apresentam maior valor prognóstico e capacidade de predição de gravidade da RD. Níveis elevados de IL-8 e IP-10 indiciam um agravamento da RD antes do desenvolvimento de um maior comprometimento funcional.
A tomografia de coerência ótica (OCT) widefield emergiu como um possível método gold standard na definição do estado do vítreo.
Perante resistência ao tratamento IV (TIV), a abordagem deve passar pela tentativa de libertação da adesão vítreo macular focal, quando presente.
Olhos VIT são mais suscetíveis a lesão por RD, devido a maior neurodegeneração da retina interna e menor eficácia com anti-VEGFs.
A presença de líquido sub-retiniano em doentes não-respondedores a anti-VEGF indicia pior resposta à corticoterapia e necessidade de terapêutica combinada, particularmente em olhos não-VIT.
Quando eficazes, os anti-VEGFs parecem melhorar a perfusão retiniana e coroideia.
Os corticosteroides, tratamento preferencial no EMD em olhos VIT, podem travar a progressão do processo neurodegenerativo provocado pela RD.
EMD com fatores de prognóstico negativos (tração vítreo-macular, vitrectomizados) e em estadios potencialmente mais reversíveis (menor espessura/número de quistos na camada nuclear interna ou RD ligeira) devem ser tratados mais precocemente.

Consulte a versão integral: https://hdl.handle.net/10216/140033