Filipe Nery
Especialista em Medicina Interna
A trombose da veia porta (TVP) na cirrose refere-se ao desenvolvimento de um trombo envolvendo o tronco do vaso e/ou um/dois dos seus ramos, ocluindo-o(s) parcial ou totalmente. Classicamente considerada como ocorrendo nos doentes mais graves, verificou-se que a sua incidência naqueles com cirrose menos severa (Child-Pugh A e B) é, ainda assim, importante, atingindo 11% dos doentes aos 5 anos. A relevância do reconhecimento de fatores de risco associados a TVP deve-se ao impacto negativo que esta tem na sobrevida dos doentes, em particular naqueles submetidos a transplante hepático. A identificação de fatores de risco permite agir sobre os mesmos, prevenindo-os ou desenvolvendo estratégias para os minimizar. O presente grupo de investigação desenvolveu dois estudos prospetivos em larga escala − que se encontram entre os de maior amplitude publicados internacionalmente até à data – para identificar fatores de risco associados a TVP. Fatores relacionados com a gravidade da hipertensão portal (varizes esofágicas de, pelo menos, grau 2), insuficiência hepatocelular (aumento do tempo de protrombina), estado inflamatório sistémico (traduzido por IL-6 mais elevada) e terapêutica instituída (beta-bloqueadores não seletivos) foram associados ao desenvolvimento de TVP na cirrose. De forma relevante, em ambos os estudos, uma diminuição do fluxo da veia porta não se associou a eventos trombóticos e o estudo de maior dimensão corroborou a atual evidência que demonstra que a TVP não promove descompensação da doença hepática previamente existente. No seu conjunto, estes achados abrem novos campos de investigação − nomeadamente relativos à utilização de fármacos anti-inflamatórios e anticoagulantes profiláticos − e a perspetiva de criação de scores preditivos de TVP para utilização na prática clínica diária.
Filipe Nery é Especialista de Medicina Interna no Serviço de Cuidados Intensivos – Unidade Intermédia Médico-Cirúrgica do CHUP. Doutorou-se em Ciências Médicas no ICBAS, UP, em maio de 2019 sob a orientação da Prof.ª Doutora Helena Pessegueiro.
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Portal vein thrombosis (PVT) in cirrhosis refers to the development of a clot within its trunk and/or one/two of its branches, partial or totally occluding it. Classically considered as occurring associated to patients with more severe liver disease, it has also a non-negligible incidence in more stable ones (Child-Pugh A and B), reaching 11% at 5 years. Patients with PVT submitted to liver transplantation have a dismal course after the procedure, with an increased mortality rate. The recognition of the risk factors associated with PVT allows acting on them, either preventing or developing strategies to minimize them. We have conducted two of the largest prospective studies allied to the recognition of the risk factors associated to PVT development. Severity of portal hypertension (presence of at least medium-sized esophageal varices), the hepatocellular insufficiency (increased prothrombin rate), the systemic inflammatory state (increased IL-6 levels), and on-going therapy (nonive beta-blockers) were identified as features related to increased risk for PVT in cirrhosis. Importantly, both studies did not related a decrease in portal vein blood flow to the thrombotic event, and the largest one reinforced the current knowledge that PVT does not elicit liver disease decompensation. Taken together, these findings uncover new areas of research, – namely concerning the use of anti-inflammatory and anticoagulation prophylactic medications −, and the prospect of the development of PVT predictive scores for future use in daily clinical practice.
Filipe Nery is Specialist of Internal Medicine at the Intensive Care Department - Medical-Surgical Intermediate Unit of CHUP. He obtained the PhD in Medical Sciences at ICBAS, UP, under the supervision of Professor Helena Pessegueiro.